Resenhas do Grupo 1 - Diversidade/ Representatividade
Grupo 1 – Diversidade e representatividade
Entendendo as entrelinhas para diminuir as diferenças
Ellem Almeida Amorim
15 dias- Vitor Martins
Escolhi o livro por ele mostrar de perto como é a vida de uma pessoa que passa por dificuldades pelo fato de a sociedade não o aceitar como ele é. A obra toca em assuntos que por mais que sejam comuns ainda geram polêmicas. Por eu ter lido poucos livros com essa temática vejo que é uma maneira de estar disposta a compreender as entrelinhas do assunto e estar mais aberta a tantas diversidades que temos no país e que estão tão próximo de nós. O livro destaca muito a representatividade com seus diferentes personagens cada um com suas características próprias e a diversidades e relações entre elas.
O livro 15 dias retrata o cotidiano de um adolescente gordo e gay que convive com o bullying na sociedade e até mesmo na escola. O personagem principal, Felipe, é o próprio narrador e discorre sobre seu dia-a-dia.
Desde criança ele soube que era gay e sempre se aceitou, porém sua maior dificuldade era ser gordo em uma sociedade que aceita um único padrão estético. Sempre alvo de piadas em sua turma ele não vê a hora de entrar de férias e ficar longe das pessoas que causam tanto mal a ele e o abalam psicologicamente gerando no personagem infelicidade com seu próprio corpo e dificuldades para socializar, demonstrando ser muito tímido e apresentar pensamentos negativos. Isso nos faz pensar no quanto vivemos em uma sociedade tóxica e cheia de preconceitos que machucam em um nível tão elevado que chegam a abalar mentalmente as pessoas que trazem opiniões ou maneiras de ser diferentes das nossas, além de, trazer de certa forma um sentimento de revolta por ainda existirem em nosso meio pessoas com pensamentos e atitudes que desrespeitam o outro e isto ser visto como algo “natural” de modo que não veja as consequências que trazem para o próximo.
Em meio a toda essa perspectiva que o personagem passa diariamente as férias finalmente chegam para Felipe e este é surpreendido por Caio, seu vizinho, que vai passar 15 dias com ele, o deixando inquieto e preocupado já que desde criança ele gosta de seu vizinho.
Por mais que o personagem fosse tímido com o passar dos dias ele consegue aos poucos criar laços com Caio, que também é gay, e com ajuda de sua terapeuta e sua mãe ele consegue conversar com Caio coisa que pode parecer simples, mas que ele sente uma enorme dificuldade por ter vergonha de si mesmo e achar que seu colega, descrito como um adolescente magro e bonito, não se relacionaria com ele.
Ao longo do livro o autor traz personagens que têm uma representatividade muito forte, como Rebeca uma jovem, negra, lésbica e gorda que por mais que tenha enfrentado grandes desafios conseguiu supera-los e acaba que incentivando “Lipe” com sua trajetória e se tornando uma amiga que faz com que ele olhe o mundo de maneira mais positiva e se aceite e veja que além dele há milhares de pessoas que passam pela mesma situação.
Todos esses personagens retratados mostram suas diversidades e diferenças se enquadrando no tema do grupo e até mesmo indo além mostrando sua realidade e desafios desde a infância. E por mais que o conceito de diversidade e representatividade seja amplo a obra consegue abordar vários desses conceitos ao invés de apontar apenas um.
O autor consegue montar um enredo muito gostoso de se ler e ainda consegue ser crítico e tocar nas "feridas" da sociedade de maneira sutil. Livros como esse deveriam ser mais lidos e discutidos por trazer temáticas comuns e que mesmo assim muitas pessoas ainda mantem a mente fechada em relação a isso, mostrando o quanto está enraizado no nosso país o preconceito étnico-racial, estético e homofóbico.
Mentira
Perfeita – Carina Rissi
Hellen
Rodrigues
Júlia é uma mulher determinada
a todo o custo a proteger sua tia que está com um problema no coração e quando
sua tia quase bate as botas de vez ela inventa a única desculpa capaz de alegrá-la
ao extremo: um noivo falso. Milagrosamente sua tia se recupera e já planeja
todos os detalhes do futuro casamento da sobrinha, restando a Júlia achar um
homem disposto a se passar por seu futuro marido para que a recuperação da sua
tia continue indo bem.
Marcos é um jovem que teve que
reaprender a viver após um acidente de moto quase quatro anos atrás. Uma lesão
na medula faz ele usar cadeira de rodas deixando por vezes o jovem frustrado.
Querendo finalmente sair das asas da família ele busca um canto só seu, mas
para isso ele tem que encontrar um cuidador para enfim sua mãe sair do seu pé.
Depois de um encontro
inusitado, Marcos ver em Julia a oportunidade perfeita para conseguir
finalmente ser livre, a garota está atolada em mentiras e preocupada com a tia,
ele está disposto a ajudá-la se ela fingir ser sua cuidadora. Juntos embarcam
nessa mentira que vai virar a vida de ambos de cabeça para baixo.
A escrita fluida torna a
leitura prazerosa e o elevado número de páginas não assusta, já que a história
passa diante dos olhos quase como um filme de comédia romântica. Os personagens
são bem desenvolvidos e vemos duas pessoas muito diferentes uma da outra.
Marcos tinha tudo, uma família rica, estruturada, estudava um curso bom, mas viu
seu mundo mudar quando ficou paraplégico. Júlia não conhece o pai, a mãe,
usuária de drogas, morreu cedo e foi criada pela tia, uma mulher espirituosa,
mas que a cada dia está mais frágil, precisando de um coração novo. O encontro
dessas vidas tão opostas faz refletir sobre os diferentes tipos de pessoas,
famílias e problemas sociais.
É interessante ver como a autora aborta o tema
“pessoa com deficiência”. Lucas não é uma pessoa limitada, ele trabalha,
estuda, faz atividades físicas e tem uma vida sexual normal, mesmo assim,
durante algumas partes do livro, ele busca a “cura” de suas pernas.
ALERTA SPOILERS
A frustração o atinge em cheio quando ele
percebe que sua situação é irreversível, mas ele percebe juntamente com o apoio
de Júlia que para ser completo ele não precisa de nada. Um romance gostoso de
se ler, uma história para levar para vida, Mentira perfeita aborda temas
interessantes no cenário atual com um olhar real, mas ao mesmo tempo leve.
Tartarugas até lá
embaixo- John Green
Joelyne Alves
Aza Holmes tem 16
anos e sofre de Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), a sua mente é como uma
espiral de pensamentos que se afunilam e fogem totalmente do seu controle. Aza
tem uma melhor amiga, Dayse, e esta, mesmo sem entender o que se passa na cabeça
da amiga, faz o possível para resgatar Aza para a realidade que existe fora de
sua cabeça. Por insistência de Dayse, elas acabam por embarcar em uma
investigação sobre o misterioso desaparecimento de um milionário da cidade.
Existe uma recompensa para quem apresentar uma pista que leve a encontrá-lo.
Por coincidência, um dos filhos desse cara, Davis Picket, foi amigo de Aza por
alguns anos, o que a deixa bastante confusa em relação a tudo isso.
Este livro me surpreendeu
em muitos aspectos, pois quando li a sinopse, imaginei algo totalmente
diferente do que aconteceu... Ele serve para tentarmos compreender melhor quem
sofre com o distúrbio, buscando entender os sinais, e sermos mais
compreensivos. Este também foi um dos fatores que influenciaram na minha escolha,
pois sempre estamos rodeados de pessoas com algum transtorno mental, que
precisam de ajuda e muitas vezes não as compreendemos como é necessário, não
damos o suporte necessário.
No decorrer da história,
é ainda possível se sentir ansiosa junto com a Aza, pois, mesmo ela sendo uma
personagem fictícia, enquanto leitora me senti incapaz de ajudá-la. Além de
todo o nervoso, o sentimento que me vinha era essa impotência de não poder socorrê-la.
Com isso, me identifiquei bastante com a Dayse, amiga de Aza. Pois em alguns
momentos, percebi que era assim que ela também se sentia. Impotente.
O livro me trouxe uma
imensidão de sentimentos e ensinamentos que, certamente, levarei para o resto da
vida. O autor soube expressar de forma clara a seriedade que uma condição grave
de TOC representa. Diferente dos outros livros, este é focado nos sentimentos
da protagonista, sem adentrar muito em romances ou mistérios. Mais do que tudo
isso, pude perceber que o autor colocou muito de si nesse livro, de tudo o que
ele sente e passa ao ter TOC.
Tartarugas até lá
embaixo, é um livro surpreendente, que nos traz lições fundamentais sobre
resiliência, empatia e a importância de uma amizade duradoura, apesar de todas
as diferenças. É simplesmente incrível!
“A vida é uma sequência
de escolhas entre incertezas”
(Tartarugas
até lá embaixo)
Todo dia - David Levithan
Iago Pereira da
Silva
O livro todo dia, de David Levithan,
narra a história de um personagem que todos os dias acorda em um corpo
diferente. Todo dia um novo contexto, uma nova despedida.
Em
um certo dia esse personagem acorda no corpo de Justin e se apaixona por sua
namorada Rhiannon. E essa paixão faz ele criar sua exceção a regra pessoal de
jamais criar laços com alguém.
Nessa jornada para tentar manter Rhiannon em
sua vida. O protagonista, que se chama simplesmente A, dá seu máximo para
transpor a barreira física enquanto tenta não bagunçar a vida dos donos desses
corpos aleatórios que ele usa emprestado para viver dia após dia.
Durante o percurso, o livro expõe os vários contextos
que A é inserido e como o mundo está fissurado em padrões e não em essência.
"qual diferença faz ser negro ou branco, gordo ou magro, de menino gostar
de menino ou menina gostar de menina?".
Outra reflexão que o livro traz a tona é que
não apenas o contexto pode lhe trair, mas seu próprio corpo também pode. Seja
uma deficiência orgânica ou biologia não alinhada ao gênero. Em ambos casos, é
como se uma barreira fosse posta na sua frente, e só quem passa pela situação
pode compreender o quão complicado pode ser lidar com o mundo exterior enquanto
tentar lidar com seu mundo interior.
É um livro no qual o autor trata temas de suma importância de forma
criativa e lhe induz a pensar no real sentido das palavras respeito, empatia,
presente e essência.
Minha versão de você – Christina Lauren
Título: Orgulho se ser, mesmo que o mundo
diga o contrário
Rosarlyny Ferreira Costa
Minha
versão de você é um livro que fala sobre amor, aceitação, intolerância e os
obstáculos vividos por jovens. Trás a história doce, porém cheia de amarras de
Tanner e Sebastian. Uma das razões para a escolha deste livro como minha
leitura, veio do fato dele apresentar um personagem bissexual – visibilidade
muitas vezes pouco encontrada nas histórias.
Tanner é bissexual e possui uma
família amorosa que o aceita como é, por outro lado Sebastian vem de uma
família mórmon bastante conservadora. Ambos se conhecem em Provo High quando
Tanner se inscreve em uma das matérias escolares que tinha por objetivo
escrever um livro e Sebastian como já havia finalizado um, seria um dos
co-mentores da sala.
No início Tanner tenta convencer-se
que o outro garoto – mórmon –jamais se envolveria com ele, no entanto quanto
mais o tempo passava e a relação entre os dois crescia ficava cada vez mais
claro para ambos que aquilo ultrapassava qualquer amizade.
Sebastian, como um filho de pais
altamente religiosos e ele mesmo sendo bastante devoto, foi então a parte que
mais precisou enfrentar dogmas, estigmas e o que a sociedade em que ele estava
inserido esperava. Ele tinha sonhos e desejos próprios, na qual sua família não
compreenderia logo julgando-o como um pecador. Para o mesmo as dificuldades que
teria que enfrentar ao estar com Tanner, significaria perder tudo. Sua família,
igreja e até mesmo uma parte de si mesmo, pois também seria um árduo processo
se aceitar em primeiro lugar. Antes de qualquer outra pessoa isso teria que
sair dele mesmo.
O livro em alguns aspectos me chamou
uma atenção intimamente. Como quando Tanner diz se considerar bi e queer, o
contexto social escolar, a proximidade com a leitura e amor pela a escrita de
Sebastian. Em algumas partes me causava muita indignação a família ou as
pessoas ao redor de Tanner e Sebastian terem suas mentes tão fechadas e
recheadas de preconceitos, mesmo que suas crenças digam para sempre agirem com
amor, tolerância, perdão e aceitação. Era como se abrissem exceções do que
defendiam em nome da religião para então jorrar seus ódios inconsistentes sobre
o que considerava errado no outro.
Por fim, ao acompanhar tudo que os
personagens viveram e escolheram ter ou não em suas vidas eu o recomendaria,
pois diferentemente do que encontramos em leituras desse gênero na qual em
grande parte os finais não justificam os meios e sua mensagem, neste livro tudo
que aconteceu servira como batalhas que precisavam ser enfrentadas para então
conseguirem seus dignos finais.
Tanner e Sebatian ensinam como viver
um primeiro amor certo, mesmo que todos em volta insistam como errado.
Livro: Over the rainbow
Arysa Gabrielle da Silva Santos
Over The Rainbow é um daqueles livros que está na minha lista
há séculos e eu só estava esperando uma oportunidade para lê-lo. O livro é uma
coletânea de adaptação de contos de fadas com abordagem de temática LGBT. Cada
conto é escrito por um autor, e incluem, Cinderela, João e Maria, A Bela e a
Fera, Rapunzel e Branca de Neve. Alguns contos tem uns detalhes mais ousados, e
todos discutem bem mais do que somente as questões LGBT.
O delinear principal é
conhecido pela base dos contos originais, então Cinderela é uma menina lésbica
que mora na casa que era do pai e foi dominada pela madrasta má, João e Maria
são irmãos loucos em doces, mas nesse caso João é Maria e Maria é João, A Bela
e a Fera trata de um rapaz baladeiro que não dá brechas pro amor até conhecer
um jardineiro por quem se apaixona, Rapunzel tem a ver com um rapaz cujo pai é
dono de um grande conglomerado de mídia e tem medo do escândalo, e Branca de
Neve é uma menina transgênero que largada pela madrasta acaba acolhida por
travestis. Todas as histórias são boas, mas as que gostei mais foram a primeira
e as duas últimas. Achei a primeira fofa nos detalhes, apesar de o fato de
muitas cenas +18 bem detalhadas, é o único dos cinco que tem essa temática
forte e acho que por isso acaba destoando dos outros fazendo com que não seja
uma leitura para crianças ou pessoas que não curtem muito esse tipo de
literatura.
As duas últimas se destacam pelas questões a mais que abordam, em
Rapunzel temos o crescimento pessoal do personagem, o tamanho do preconceito
vindo da própria família e o que ela é capaz de fazer, mas é uma história que
apresenta um desenvolvimento completo de transformação pessoal e de vida, e que
fala de AIDS também, e da aceitação, do amor mesmo com a doença, o que é muito
necessário! Já Branca de Neve, é um dos mais complexos, pois fala não só da
questão do transgênero que é mais debatida atualmente, como também dos
travestis, e da família que a vida nos dá, do acolhimento, da inocência, da
amizade, da bondade e da maldade humana, da vida na rua, dentre outros.
Pela
sinopse eu imaginei um livro um pouco diferente do que foi entregue. Não seria
justo da minha parte ser muito dura nas críticas pois contos precisam ser
pequenos e essas histórias infantis não são pequenas e nem tão fáceis de serem
reescritas em poucas páginas. Também não acho justo cobrar demais de Youtubers,
já que dos cinco autores apenas uma não é Youtuber e sim escritora. São textos,
que podem ser usados para discussão dos temas, que trazem mais entendimento e
aproximação e que podem formar gerações livres de preconceitos, que compreendam
o amor em todas as suas formas de apresentação e as pessoas em suas
particularidades. Enfim, recomendo a leitura!
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